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Como canta Adriana Calcanhoto, “eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome”. Não sei o nome de todas as cores, mas isso não impede que me pintem, que me manchem.

Se misturam em mim e me tingem em cores que não têm nome.

Me misturo de corantes e aglutinantes e me transformo em tinta. Sou tinta gente.

Eu vivo entre matizes, entre nuances. Na minha paleta coloco as cores que busco no mundo: intensidade, realce, brilho, vivacidade, energia.

Eu junto fragmentos, coleciono gente com cores diferentes, e construo o meu caleidoscópio: de misturas heterogêneas, de composições improváveis, de arranjos infinitos.

Eu vivo entre tons, entre cores, entre Fabi e Telma.

Fabi é aquarela; Telma, pintura a óleo. Telma é pincel; Fabi, spray. Fabi é litogravura; Telma, xilo. Fabi é perspectiva; Telma, sfumato.

Se apenas fruísse eu já seria grata por poder ver e viver em meio a tanta sensibilidade, beleza e cor.

Mas quis o acaso, o das descobertas fortuitas e felizes (se-ren-di-pi-da-de), que eu, buscando mais luz para a minha vida, me borrasse de Fabi e Telma e agora, nós três juntas seguimos entretons, entrelaçadas, entre territórios.

Piti

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Atualizado: 9 de jun. de 2021

por Telma Holanda

Pensando nesses muitos deslocamentos escolho fazer a leitura da escritura de cada Território que percorri e convido você, na Entre_Territórios, a conhecer os meus Territórios e minha trajetória.

EN_TRE!! João Carrascoza diz que nosso começo de vida é de muita leitura de mundo e Paulo Freire reforçaria essa afirmação. Foram muitos os lugares em que passei e muitas leituras feitas em tempos distintos. Abrindo o mapa de minha vida e olhando para cada caminho, deslocamento e rota desbravada começo a ler o que aprendi com cada contexto e o que consegui guardar em minha bagagem de um lugar para o outro. Deslocamentos pressupõem esforços, transferências, vivências e um tempo. Pensar nessas características tão importantes ao olhar para o percurso de uma história de vida é olhar para cada território e validar a escritura de cada um deles. Ao abrir a escritura que trago do território do Ceará, leio um documento que narra minha origem, heranças culturais e de valores familiares que correm dentro de mim. Do Paraná, a escritura me apresenta os três primeiros anos de uma criança em contato com a natureza e a convivência com o irmão, primos e tios declarada no sítio com sua lavoura de café localizado próximo a Apucarana. De São Paulo, em São Caetano, carrego a escritura de uma infância de descoberta do território escolar, as lembranças das professoras, dos colegas e do trajeto de casa até a escola, caminho percorrido com muito amor. De outro Território chamado Santo André, guardo as histórias ainda da infância somadas a da adolescência, das brincadeiras na rua, dos amigos, do aprendizado de mundo feito entre deslocamentos diários de ônibus e do quintal de uma casa que habitei com muita intensidade. De Pindamonhangaba, território que me distanciou do urbano para novos olhares e experiências, está escrito que nele desbravei novas rotas: as das amizades, as do mundo da Educação, do trabalho, da profissão e ao destino de uma nova família. Foi nesse lugar que deixo de ser uma e passo a um viver somado. Eu no Marcos, no Pedro e na Ana e eles em mim. A escritura desse lugar documenta minha família, a junção de nomes, histórias e lugares. Como boa viajante não parei em meus deslocamentos e acabei chegando em Guarulhos, território que me trouxe em busca de trabalho. Neste lugar de mais de 1milhão de habitantes conquistei cidades, novos estados e países. De casa ao aeroporto passei a ser passarinho em constantes voos e assim conheci territórios de outra perspectiva. A escritura nessa cidade é carregada com as cores do vermelho, azul e preto entre carimbos registrando marcas de Territórios Educacionais por onde vivi muitas chegadas e partidas: Itália, Portugal, Espanha, EUA, Argentina, Paraguai, Finlândia, Estônia, França,Inglaterra, Chile e Peru foram lugares em que me movi em Diálogos pela educação. Paulo Freire me diria: ...”me movo como educador porque, primeiro, me movo como gente.” Foram muitos os meus movimentos enquanto gente e educadora e agora vivo uma nova história com a Entre_Territórios. Meu desejo hoje é que a Entre_Territórios possa ser lida como o lugar em que o convite na chegada mobilize muitos educadores. Assim, como eu compartilhei meu Território tão particular, composto de muitos Territórios, desejo que cada um que En_tre neste espaço traga o seu singular contexto e some pluralmente a essa nova história e espaço voltado para a Educação.

Telma

 

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Atualizado: 9 de jun. de 2021

por Fabiane Vitiello


Nasci paulistana da gema, como se diz por aqui. E adoro que seja assim!

Cresci em bairros típicos de São Paulo: Brás, Belém e Tatuapé. Vez ou outra, espichava até a Mooca, onde tinha amigos.

Durante 42 anos meus passos acompanharam, de pertinho, a mudança ocorrida no bairro do Brás. Imigrantes vindos da Europa, sobretudo da Itália, habitaram as suas vilas escondidas entre um e outro casarão. Posteriormente, migrantes vindos de diversas regiões do Norte e Nordeste do Brasil por lá estiveram. Suas ruas foram tomadas por músicas e costumes tão característicos desses povos. E eu estava lá, percebendo a transformação pela qual o bairro passava e o quanto ela também impactava em mim.

Morei no Brás desde o nascimento até os 8 anos de idade. Meu corpo carrega marcas das brincadeiras ocorridas por lá: do som das janelas da casa de minha avó (que casa!) ao serem abertas, e sente a textura dos paralelepípedos da maior parte de suas ruas e o frescor do vento que se mesclava ao cheiro do leite fabricado em uma das maiores cooperativas de laticínios brasileiras. Cooperativa, inclusive, que era um dos locais preferidos de minhas brincadeiras.

Confesso que cada vez que escuto o “Samba do Arnesto” meu coração palpita e transborda boas memórias.

O Brás me abriu os olhos, desde muito cedo, para a convivência entre os vários territórios do mundo.

Junto a esse território tão especial se entrelaça um outro: Embaré, bairro da Baixada Paulista. Eu sou composta pela areia das praias que sobe com o pé de vento e grudam em todo o corpo, sou composta pela maré baixa que por tantas e tantas vezes acolheu meus desejos de crianças e choros de adolescente, sou composta pelas queijadinhas compradas na praia, de forma abundante, pelo meu avô Orlando, sou composta pelo mate com limão que escorria pela minha garganta em um sol escaldante de verão, ah, sinto o toque de minha mãos pequenas envoltas na mão segura de minha avó para atravessar a avenida Bartolomeu de Gusmão e voltar para casa. Na outra mão, eu segurava um tesouro: o meu balde em formato de peixinho laranja cheio de conchas que se misturavam à pazinhas e rastelos de metal e madeira.

O Embaré é o território de minha descoberta de mundo. Das experiências mais fortes e afetivas vividas por mim ao longo dos primeiros anos de vida. Ele é meu emaranhado de histórias com significados profundos, essa é a minha certeza.

Localizada a 150 km de São Paulo está a cidade de Serra Negra, considerada uma das principais cidades do Circuito das águas. Muito frequentada por turistas de todo Brasil que buscam dias de calmaria em contato com a natureza. Para mim, Serra Negra sempre esteve atrelada a pouca calmaria e muita diversão! Piscinas dos mais diferentes formatos, tamanhos e temperaturas. Eu e minha irmã nos arremessávamos em toda a programação prevista para o dia. Monitores e jogos espalhados por todo local. Comilança de doces e sorvetes fora de hora e a presença, em especial, de meu pai. Sempre ativo entre uma e outra brincadeira das crianças ou entre os adultos que também se arriscavam em um jogo de futebol ou uma partida de bilhar. Esse foi o território que me permitiu a descoberta de meu amor por meu pai.

Tantos outros territórios passaram por mim naquele início de vida e também deixaram seus vestígios: Praia Grande, Itú, Lindóia, Aparecida, Peruíbe, Itanhaém...

Coloquei os pés em um avião aos 22 anos e de lá para cá não parei. Passei a desbravar territórios mais longínquos e, muitas vezes, nunca sonhados.

Já acompanhei o sol por vários verões em muitos estados brasileiros e vi a lua chegar em diversos países. Atravessei territórios, mudei as cores de minhas penas, parafraseando Rubem Alves em um dos textos que mais amo no mundo “A menina e o pássaro encantado”, e em todas viagens sonhei, assim como a menina, com a alegria do reencontro. Eles aconteceram, para minha alegria.

Territórios que me marcaram e permitiram que novas relações e experiências fossem vividas em inteireza. Territórios que me provocaram ações em relação às transformações necessárias na educação.

Hoje ao pensar em territórios, dois deles me atravessam profundamente. Vivo a presença constante de ambos em minha vida: São Francisco Xavier e Araxá.

Araxá é morada da família que me adotou. Por lá passo os dias entre gargalhadas, afeto e pães de queijo.

São Francisco Xavier é onde mora o meu coração e onde eu quero estar. Para sempre.

Desbravar territórios, desvelar espaços, caminhar por estradas inéditas e ruas desertas que acolhem os meus próprios pensamentos em ebulição, esse é um dos meus maiores prazeres na vida.

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